No contexto da atenção integral à saúde, conhecer alguns elementos da identidade do paciente faz diferença na atenção que será dispensada à saúde desta pessoa.
Sedentarismo, prática de atividades físicas, profissão, tabagismo, hábitos alimentares, horas de sono por noite, níveis de estresse, hobbies – tudo isso constitui parte da identidade dos indivíduos e, em diferentes graus, modifica a maneira como o cuidado em saúde será exercido pelos médicos e demais profissionais sobre uma pessoa em específico.
Não menos importante, a orientação sexual e práticas sexuais relacionadas também fazem parte da construção identitária. Conhecer tal aspecto da vida do paciente é de extrema importância para que o médico consiga dispensar um cuidado adequado e individualizado.
Pessoas LBGTQIA+, assim como qualquer pessoa, querem se sentir acolhidas e respeitadas nos serviços de saúde. Entretanto, assumir-se perante o médico é um processo que pode ser bastante complexo. Pesam-se sempre os benefícios e as possíveis consequências negativas.
Muitas razões podem fazer um paciente LGBTQIA+ omitir a sua orientação sexual perante o profissional de saúde: não ter a orientação sexual assumida publicamente; medo de sofrer preconceito ou julgamentopor parte do médico; sentimento por parte do paciente de que se trata de um assunto pessoal; crença de que sua identidade sexual não tem relação com as queixas de saúde; sentimentos negativos internalizados a respeito da própria identidade.
Destaco ainda a existência de questões relacionadas à definição da própria identidade sexual, principalmente quando se trata de pacientes mais jovens.
Muitos já sofreram LGBTfobia em clínicas, hospitais e consultórios. Frequentemente de forma sutil e velada, ela ocorre por meio de micro agressões verbais (colocações rudes ou desdenhosas sobre a identidade) e não verbais (comportamentos desdenhosos, olhar de desaprovação, olhar de desgosto).
Mesmo que não haja discriminação, muitos LGBT’s experimentam cuidado não afirmativo (por exemplo: profissionais assumirem que os mesmos são heterossexuais ou afirmar os cuidados de saúde de uma perspectiva heteronormativa). Cria-se, assim, um ambiente pouco receptivo e estimulador à afirmação da própria identidade
Destaco ainda o viés implícito, que ocorre quando um profissional de saúde adota determinada postura assumindo que já sabe algumas informações não ditas pelo paciente, obedecendo a estereótipos. Por exemplo: quando um médico considera que um paciente homem cisgênero não afeminado seja necessariamente heterossexual e o aborda como tal. Essa abordagem pode levar a diagnósticos equivocados e o paciente pode não receber o tratamento adequado.
Uma relação médico-paciente saudável é aquela em que existe respeito e confiança.
Revelar a sua orientação sexual, assim como outras informações a respeito de práticas sexuais, pode sim fazer muita diferença no raciocínio clínico do profissional de saúde. Cabe ao médico realizar a escuta ativa, criar um ambiente acolhedor e livre de pré julgamentos, intervir e estabelecer tratamentos adequados quando necessário, respeitando sempre o sigilo médico.
