A forma como nossa sociedade foi sendo estruturada, acabou por segregar sexualidades que não se adequavam ao sistema heterossexista. A homossexualidade é uma delas, desde o estabelecimento do cristianismo nos primeiros séculos, ela tem sido desqualificada. A atividade sexual foi associada exclusivamente à procriação. Era ideal que as pessoas devotassem suas vidas à religião. Porém aqueles que não conseguissem e tivessem apetite sexual, deveriam casar-se e ter filhos. Dessa forma, o desejo sexual estaria voltado à reprodução da espécie, conforme consta nas escrituras sagradas.

Ao longo dos séculos, com a instalação da santa inquisição, muitos homossexuais foram punidos e mortos. Após a formação dos estados-nações, leis eram feitas para punir criminalmente as pessoas que apresentavam comportamentos homossexuais.

Por volta do século XIX, as ciências biomédicas estabeleceram como sendo transtorno psiquiátrico o comportamento homossexual. Quem o praticava era diagnosticado como doente sujeito a tratamento de cura ou internação. Dessa forma a homossexualidade já era capturada por três dispositivos de poder e controle: a religião, o sistema jurídico e a medicina.

Muitos homossexuais eram presos, tratados pela medicina em hospícios e doutrinados pelas religiões para que pudessem se tornar heterossexuais. A sociedade em geral estabelecia como cultura a hetero cis normatividades como única forma possível de existir.

Grande parte da sociedade é educada para ser homofóbica e misógina, independentemente da orientação sexual que desenvolve ao longo da vida. As normas de gênero sociais, bem como os saberes das ciências biomédicas estabeleceram modelos de como as pessoas deveriam ser. Baseados na cultura, tradições, religiões, códigos de leis e a medicina, o sexo deveria ser voltado apenas para a procriação. Compreendia-se que o feminino se atraia pelo masculino e vice versa. Portanto, por exemplo, se um homem sentisse atração sexual por outro homem, ele deveria ter algum aspecto considerado feminino que justificasse tal comportamento. Portanto, a homossexualidade em homens foi sendo associada aos aspectos femininos e a homossexualidade em mulheres aos masculinos. O que é considerado masculino está associado à força, porém aquilo que é denominado de feminino é percebido como fraqueza. Nossa sociedade ainda é competitiva, heterossexista, machista, patriarcal e misógina. Nela, a força é exaltada enquanto a fraqueza é totalmente desqualificada.

Pois bem, os próprios homossexuais em seu processo de educação sociocultural, incorporam tais valores relativos ao funcionamento social vigente. Resultado de uma sociedade totalitária, fascista e nazista que não tolera o diferente do modelo imposto que é: cis-heteronormativo machista, misógino, racista, capitalista, elitista, globalizado, competitivo, exclusivista, preconceituoso, segregacionista, discriminatório e classista. O que é considerado diferente ou é isolado, corrigido ou eliminado. Tal cultura começa a operar como se fosse vírus nas personalidades dos homossexuais. O auto preconceito é tecnicamente denominado como homofobia internalizada ou orientação sexual egodistônica.

Tal “vírus” do autopreconceito vai destruindo a auto estima da pessoa homossexual, podendo gerar sentimentos de auto rejeição, vergonha, isolamento, embotamento afetivo, depressão e ansiedade, além de outros problemas psicológicos e psiquiátricos, ideação suicida, auto sabotagem, autodesvalorização e mutilação; vulnerabilidade psíquica, carência, uso e abuso de álcool e demais drogas, comportamento sexual de risco, contaminação por ISTs (infecções sexualmente transmissíveis); problemas de relacionamentos com familiares, amigos e parcerias afetivas; violência doméstica, esforço descomunal para se adequar aos padrões sociais; modificações corporais, sentimentos de inadequação e não pertencimento, incorporação de um personagem que agrade o social e finalmente, o aniquilamento do próprio ser por meio do suicídio.

Em meu doutorado sobre o assunto há um questionário para auto aplicação, voltado ao homem homossexual. Ele identifica o nível de homofobia internalizada e está disponível gratuitamente no seguinte link para ser baixado em PDF:

https://tede2.pucsp.br/handle/handle/17142#preview-link0

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